O documento mais antigo sobre os habitantes do atual município de Galvão data de 1924. É uma relação de contribuintes da localidade de Saudades, situada à margem direita do Rio Saudades, que naquele tempo se incluia no distrito de Campo Erê, criado em 1918, e cuja jurisdição chegava até esse rio, abrangendo ainda, a Fazenda São Miguel, à margem esquerda do Rio Saudades.
Estes eram os moradores:
Saudades: Joaquim Monteiro, José Monteiro, Francisco Alves de Paula, Hozório Mendes Santos, Paulo Bento dos Santos, Francisco Alves Oliveira, Francisco Gormendes, João Alves da Rocha, Albino Pereira, Justino de Souza Fontes, Geraldo Courado, Hozório José dos Santos, José Valencio dos Santos, Lucio Valencio dos Santos, Joaquim Clemente Cardozo, Belico Raymundo Amaral, Antonio Junior Maciel, Oliveira Raymundo Amaral, José Raymundo Patinho, Joaquim P. Patinho, João Ambrósio, Manoel Romário, Fidelix Alves…, Harmindo Monteiro.
Para a época é expressivo o número de habitantes pagadores de impostos, fato que faz supor a existência de muitos outros moradores, não só na localidade de Saudade como nas circunvizinhas.
E, se eram numerosos os habitantes em 1924, o início do povoamento do lugar teria acontecido e se avolumado já na primeira década de 1900.
A população da localidade de São Lourenço, na mesma data também era significativa, como se pode constatar pela relação abaixo, extraída da mesma lista de 1924:
São Lourenço: Antonio Mateus Oliveira, Horácio Domingues de Lima, Fermino Antunes Lima, Salvador Domingues de Lima, João Francisco Traydock, Dyonisio Domingos Lima, Caetano Antunes Rodrigues, Zacarias Pereira Silva, Luiz Fernandes Oliveira, Francisco Ribeiro Paz, Ananias Gomes Santos, João Batista de Godois, Affonso Roberto Chagas, José Amaro, valentim Roberto Chagas, José Manoel Tamoio, Miguel Alves da Luz, Angelino Godois Almeida, João Alves da Luz, Salvador Godoy Almeida, José Antunes Rodrigues, João Fernandes Oliveira, Hortêncio Pereira Silva, Antonio Cabral, José Antunes de Oliveira, João Antunes da Rocha, Pedro M. Farias, josé Matheus de Oliveira, Felix dos Santos, Pedro Felix Santos, João Lemes da Silva, José Ferreira Barbosa, Juvenal Ferreira Barboza, Generoso Antunes Poncicá, Ezidio Ayres Guerreiro, Felissio Antunes Rodrigues, Silvestre Rodrigues Forte, Boaventura Rodrigues Forte, Pedro Rodrigues Forte, José Rodrigues Perreira, Antonio Rodrigues Forte, Gregorio Bermit, Inocêncio Rodrigues Forte, Athanagildo Alves da Luz, Olympio Lemes da Silva, José Rodrigues Fonte, Roffino Feliciano dos Santos, benedito Antonio Chagas.
Aspecto interessante a se observar é a etnia dos moradores relacionados em São Lourenço e Saudade, o que vem a ser uma ammostragem da composição étnica dos moradores de toda a região Oeste de Santa Catarina e do Paraná, no segmento do divisor, até 1924.
Todos, com raríssimas execessões, são de irogem lusa ou “cabloca”.
O documento mencionado faz prova histórica de que nessa época ainda não tinham chegado à região elementos de origem italiana ou alemã. Poderiam até estar prestes a chegar. Mas predominavam absolutamente os cablocos, tanto nas camadas altas de estancieiros, fazendeiros ou criadores de gado, como nas baixas camadas, os peões, forasteiros ou mesmo foragidos da justiça.
Por essa época a migração italiana e alemã, vinda do Rio Grande do Sul, estava alcançando o vale do Rio do Peixe, atraída pela Estrada de Ferro São Paulo – Rio Grande, construída nos anos de 1909 a 1910.
E de onde seriam originários os cablocos do Oeste do Paraná e Santa Catarina?
Os primeiros, lusos ou cablocos, eram de origem paulista.
A eles se juntaram os criadores de gado, estancieiros ou fazendeiros gaúchos, também de etnia lusa e cabloca.
Os gaúchos, com o passar dos tempos, tornaram-se mais numerosos, simplesmente pelo fato de que o Rio Grande do Sul sempre foi um Estado bastante povoado e sempre teve emigrações significativas ou em massa para os atuais Estados de Santa Catarina e do Paraná.
As primeiras migrações eram de cablocos, ou lusos, para os “rumos” de Palmas. Já em 1850, com a abertura de caminhos de Guarapuava a Nonoai se observava a transferência de gaúchos campeiros do Rio Grande para os campos do atual Paraná.
Este tipo de emigração aumentou a partir de 1893, devido à Revolução Federalista que ensangüentou o Rio Grande do Sul por vários anos e aos conflitos posteriores entre maragatos e ximangos, que se prolongaram por mais de vinte anos.
Em face desta conjuntura histórica é fácil se deduzir que os primeiros moradores de Galvão, como da região em geral, eram em grande parte, senão maioria, de origem riograndense, lusos e cablocos.
A partir de 1924 começa a migração italiana e alemã, de tipo colonial, com tradição agrícola. Com estes elementos se cultivam as terras de matos do Oeste do Paraná e Santa Catarina, no que são auxiliados pelos cablocos de consição social e econômica mais pobre.
Esta imigração se avoluma de ano para ano e em poucas décadas transforma o Oeste de Santa Catarina e o Sudoeste do Paraná num prolongamento humano, econômico e social do Rio Grande do Sul.